16 de maio de 2020

1/32 Hasegawa Messerschmitt Bf 109G-10



Breve assunto

Devo dizer que o Bf 109 é um dos aviões mais icônicos da história da aviação durante a Segunda Guerra Mundial, ele se tornou uma lenda diante de seus pilotos e também aos que o enfrentaram em combates. Esta reputação nasce em 1937 durante a Guerra Civil Espanhola, os alemães apoiavam os Nacionalistas liderados pelo General Francisco Franco enviando tropas, equipamentos, aeronaves e pilotos, não havia à época nenhum tipo de aeronave capaz de enfrenta-lo à altura. Seus pilotos, muito bem treinados e já veteranos do combate aéreo contabilizaram inúmeras vitórias durante este período, e em 1939 adentraram na Segunda Guerra Mundial já com tal reputação.
A aeronave foi aperfeiçoada e evoluiu em vários outros subtipos que não caberia aqui enumerá-las; mas talvez a mais famosa tenha sido a série E (Emil) como era conhecida entre seus pilotos. Durante todo início do conflito esta versão dominou e aterrorizou o mundo e seus oponentes, leve, manobrável, rápido e mortal, este tipo se viu suplantado em 1940 durante a Batalha da Inglaterra pelo Spitfire britânico, que em muito se assemelhava ao Bf 109, e em alguns aspectos era melhor em desempenho do que o caça alemão, mas deixava a desejar pelo seu armamento deficiente de oito metralhadoras de 7.7mm em suas séries iniciais. Se comparado ao poderoso armamento do Bf 109 de 2x MG17 de 7.92mm sobre o motor, duas MG FF de 20mm nas asas e mais uma MG FF de 20mm atirando através do cubo da hélice, o Spitfire MK I equilibrava o combate por sua capacidade de manobra e a qualidade de seus pilotos, contra um Bf 109 com pouca autonomia de combustível. Assim, durante a Batalha da Inglaterra, ambas aeronaves ganharam a reputação de lenda. Ambos aviões passaram por diversas modificações até o final do conflito.
A aeronave em questão trata de uma dessas versões, desenvolvidas já no período final da guerra. Apesar de o modelo da série G (Gustav) ter tido vários outros subtipos, talvez a que tenha sido mais utilizada à partir de meados de 1943 tenha sido o G-6, este modelo foi o esteio da Luftwaffe até o desenvolvimento de novas versões do tipo e a versão mais produzida de todos os Bf 109. Possuía um motor mais poderoso, podia levar armamento mais pesado, mas não era, segundo os pilotos alemães, tão manobráveis e leves quanto aos antigos modelos das séries E e F; este último é tido como unanimidade entre os pilotos alemães como sendo o melhor de todas as séries.
O modelo G-6 foi desenvolvido e modificado até as séries G-14 e G-14/AS. Nessa época, tais aeronaves eram modificadas em suas fábricas para suprir a demanda de novos caças para defender o Reich, de alguma forma, essa necessidade levou as fábricas a utilizarem tudo que tinham, desde partes de outros Bf 109 na tentativa de se manter uma produção de caças. Alguns destes G-6 / G-14 / G-14/AS diferiam entre si em vários aspectos como canopy, motor, carenagem de motor, deriva, bequilha e uma série de outras características que tornam confusa a descrição destes tipos.
O G-10 não era resultado do desenvolvimento de um caça padronizado, mas resultado da urgência e da demanda de se obter o maior número de caças mais poderosos possível. 
Em meados de 1944 o motor DB 605D estava pronto após um prolongado desenvolvimento, uma unidade antecipada para o modelo da série K (Kurfürst) que ainda estava em fase de desenvolvimento. O desenvolvimento deste modelo para produção em série estava bastante atrasado, até por que ele incorporava inúmeras mudanças se comparado aos modelos das séries anteriores. Por outro lado, a pressão por entrega de novas aeronaves nas fábricas era enorme e o avançado DB 605D estava disponível e havia a possibilidade de se instalar essas unidades em células de Bf 109G existentes. Isso somado ao já mencionado atraso da produção da série K, deu origem ao final de junho de 1944 de um novo caça impulsionado pelo poderoso e avançado DB 605D denominado Bf 109G-10, o "Bastardo", que era um modelo que incorporava todas as outras modificações já feitas anteriormente nos modelos anteriores G-6 / G-14, para uma versão de produção padrão. Lembrando que essas aeronaves eram fabricadas em três diferentes fábricas, e os modelos se diferenciavam entre si em diversos aspectos.
O Modelo G-10 de série foi o mais rápido modelo da série G, embora o armamento fosse semelhante ao do G-6, o G-10 era o que mais se aproximava em certos aspectos aos modelos da série K. Dentre as mudanças mais marcantes, a incorporação de uma bequilha fixa mais alta, deixando a cauda mais elevada, o que proporcionava ao piloto uma melhor visão durante pousos e decolagens, rodas mais largas o que proporcionou as grandes bolhas na superfície superior das asas para acomodar o trem de pouso. Outra modificação padrão foi a introdução de uma deriva maior e de madeira.
O G-10 possuía sobressaltos mais arredondados na carenagem do motor como alguns G-14 para acomodar o grande supercharger do novo motor DB 605D com 1850Hp. O modelo padrão era armado com duas metralhadoras Mg 131 de 13mm sobre o motor e um canhão MG 151 de 20mm no cubo da hélice. Outros modelos podiam levar tanques externos Bf 109G-10 R3 e outros Bf 109G-10 U4, um canhão Mk 108 de 30mm no lugar do MG 151 de 20mm, raros foram os que utilizavam canhões de 20mm em gôndolas sob as asas como o G-6, estas versões eram denominadas Bf 109G-10 R6.
O Bf 109G-10 era uma avião que possuía uma boa razão de subida, boa velocidade e uma boa manobrabilidade; podendo ser um páreo duro até para os P-51 e Spitfires em suas versões finais. Messerschmitt desenvolveu um caça que lutou durante todo o conflito, passou por grandes mudanças, sendo que foi a espinha dorsal da Luftwaffe durante todo o período. Sua silhueta inconfundível inspirava medo e respeito aos seu oponentes e foi até o final sendo considerado uma máquina de matar.


O Kit

O propósito deste artigo não é um review do kit, mas sim as etapas de montagem, bem como modificações e melhoramentos. É claro que críticas e opiniões sobre o kit serão abordadas durante a montagem.
A Hasegawa é tida como um dos maiores e melhores fabricantes de kit, eu em particular aprecio muito; seu molde é muito delicado, os encaixes excelentes, bem como a engenharia. No caso de nosso modelo, devo dizer que não há nenhuma novidade em relação ao mesmo modelo da longa série de Bf 109 na escala 1/48; salvo por ser em uma escala maior, o que proporciona mais espaço para detalhamento. No mais, um kit excelente e muito simples de se montar.
De negativo, eu diria: o interior do cockpit, que possui as suas paredes laterais gravadas na lateral da fuselagem. Na minha opinião, poderiam ser separadas como o do kit na escala 1/48; sua fuselagem em duas seções, sendo a cauda separada do restante da fuselagem dianteira podem causar algum problema durante a montagem. Vejo que a intensão do fabricante aqui foi aproveitar a seção da cauda para que se possa adaptar em outras versões diferentes. 
Eu recomendaria a montagem das duas partes da fuselagem (dianteira e traseira) para que se torne uma só, antes de unir com a outra metade. Isso evitará que haja algum tipo de desnível quanto a superfície lateral do modelo em sua junção. Eu não segui este conceito e tive exatamente este problema.


Montagem

Finalmente, após um longo período de ausência, peço desculpas pela demora de novas postagens. Durante esse período, eu ainda montei outros kits, mas um problema no meu computador levou a perda de todas as fotos de outros modelos que estavam sendo montados para o blog o que me desanimou bastante. Esses modelos estarão em uma futura seção de "GALERIA DE MODELOS/ Meus Kits", porém sem os estágios de montagem.



Bancada pronta para trabalhar! É bom ressaltar que este kit é uma edição especial que vem com um bônus (uma placa com photo etched); a diferença está na indicação de um selo redondo vermelho na parte superior direita do tampo da caixa.
Os PE são muito bons e bastante delicados, contém partes para os anteparos superiores dos escapamentos, antenas, cintos, radiadores, fechos da carenagem do motor, rodas do trim e os pedais. Outras modificações foram feitas por conta própria.
Vamos iniciar pelo cockpit, como mencionei antes, as paredes laterais do kit não são moldadas separadamente, e então a primeira parte da missão foi fazer outras utilizando plasticard fino e aproveitando alguns detalhes como o rádio e sistema de oxigênio do próprio kit e os PE. O resto foi feito em scratch utilizando fios de cobre, solda, latinha de refrigerante e tendo como referência fotos da aeronave original.
O motivo pelo qual me decidi a montar as novas paredes, foi porque no modelo as paredes da fuselagem não tocam o assoalho, deixando um espaço vazio entre as peças de mais ou menos 2mm e isso fica bem visível, por se tratar da escala 1/32 tornando isso muito evidente, mais do que na escala que costumo trabalhar que é 1/48. Clique nas fotos para ampliar.

Detalhe da parede lateral.

As novas paredes e o resto do cockpit.

Aqui as duas laterais do cockpit.

Foto de referência de uma das laterais.

Acima, o que considero como a minha falha ao montar separadamente as partes da fuselagem traseiras como mencionado antes.
A parte da fuselagem traseira deve ser colada e alinhada antes à parte dianteira formando uma fuselagem completa, para depois serem fechadas por inteiro.

A montagem segue com algumas modificações. A primeira delas é refazer a caixa da bateria que fica atrás da cabeça do piloto, pois a peça do kit apesar de muito boa, ela é subdimensionada. A peça foi feita à partir de um bloco de resina, destes que as peças vem presas e eu sempre me dou ao trabalho de guardar. a tampa onde ela se localiza foi substituída por um pedaço de lata de refrigerante cortada no tamanho certo e colada no lugar. Também montei um sistema que permite o abrir e fechar do canopy, muito semelhante em funcionamento ao original. Essas peças foram feitas usando um tubo de latão  e uma corda de aço de violão bem fina, que passa por dentro do tubo, sendo que em uma das extremidades ela é dobrada em "L". 
Tanto o canopy quanto a peça do pára-brisas foram furadas com uma broca bem fina para que se acomode um pequeno pedaço da corda de violão para que seja como um pivô. A barra do tubo de latão foi fixada na fuselagem com brackets feitos de plasticard e colados na posição com cola cianocrilato (Super Bonder). Isso permite que o canopy possa abrir e fechar. 



A foto acima mostra claramente o corte que deve ser feito, lembrando que um outro furo na mesma espessura deve ser feito (na frente) do lado oposto do canopy afim de que possa encaixar no pino instalado na parte do para-brisas.



Nesta foto o tubo de latão transpassado com a corda de aço. É importante lembrar que o tubo não pode ser do mesmo tamanho da superfície plana por trás do encosto do piloto, pois deve-se levar em conta a espessura de cada lateral do canopy.



Na foto acima é visível o tamanho das peças, são bastante delicadas. Esta parte vai se acoplar ao canopy, por isso deve-se lembrar da conexão entre o pino do para-brisas (foto) e o canopy.


Nas fotos seguintes é possível observar como funciona o mecanismo e também onde se aloca a barra e sua dobradiça. Um outro detalhe importante é a presilha do cordão de suporte do canopy, a caixa da bateria e o local exato de onde se dá o corte do canopy como visto na (foto: Parte 1) acima.





Baseado nestas fotos foi possível elaborar uma forma de fazer com que o mecanismo funcione no modelo da mesma forma que o real.


                      Aqui a primeira experiência do mecanismo em funcionamento.


Outras melhorias foram feitas, como a instalação de um tubo de latão para substituir o canhão do cubo da hélice.




Não mencionei, mas no jogo de PE veio a grade de proteção da unidade de supercharger do motor.



Na foto abaixo, as presilhas da tampa da carenagem do motor, são nove no total.




Os escapamentos foram cavados com um estilete de ponta fina e aparados com uma dessas ferramentas dentista; elas são muito úteis.






Na fotos seguintes é possível observar os anteparos de proteção de gases do escapamento (incluso no set de PE).





Outra modificação feita foi a alça onde se prende o cabo do fio da antena na deriva. Isto só foi possível utilizando uma peça da minha caixa de sucatas, onde costumo guardar peças que sobram, PE antigos, etc. 
Os profundores foram cortados para posicioná-los em outra posição, isso confere um pouco mais de vida ao modelo.







A antena Loop provida no kit não é lá essas coisas, eu utilizei a que veio no set de PE, mas posso afirmar que ela pode ser feita utilizando partes das árvores de um set de PE ou algum outro material metálico cortado na espessura e tamanho certo, aqui somente mostrada para verificar o encaixe na sua base, pois somente será colada ao final da montagem, afim de preservar a sua forma por ser muito fina e frágil. Também é possível observar a emenda entre as duas partes da fuselagem atrás do canopy. Neste ponto foi que mencionei o meu erro. Foi preciso utilizar massa putty e alguma lixa para nivelar, e em alguns lugares tive que desbastar o desnível aplainando com uma lâmina e lixando novamente.


Os cintos e sua instalação foram feitos utilizando folhas de chumbo que vem em garrafas de vinho (hoje em dia muito raras), pois agora se utilizam materiais plásticos metalizados; serve também. Usei fios de cobre finos para algumas fivelas, algumas peças do set de PE do kit e algumas fivelas de PE antigas. É bom sempre ter uma referência fotográfica.






Na foto acima pode se observar a barra feita com tubo de latão já instalada no seu local, também é possível ver a caixa da bateria feita com bloco de resina da caixa de sucata e a tampa por trás dela feita com lata de refrigerante.


Abaixo os PE de cintos que vem no set bônus, não são ruins, mas eu preferi fazer os meus próprios. As fivelas foram retiradas do set de PE do Mi-24V Hind da Trumpeter, que não utilizei por optar em não colocar os bancos no compartimento. 








O próximo passo, foi pintar o painel de instrumentos do kit, aqui um elogio que faço sempre à Hasegawa. O painel é gravado finamente e é possível trabalhar nele sem a necessidade de se usar um de PE, que em sua grande maioria não possui um bom relevo.
A peça foi fintada com German grey da Humbrol Enamel, os instrumentos eu pintei delicadamente com a técnica de dry brush e para a simulação dos vidros eu usei o verniz clear da Tamiya, que possui um brilho espetacular e um ótimo acabamento para esse tipo de trabalho.



Continuando, agora é a vez do canopy e uns outros detalhes. Eu usei como referência uma foto que mostra bem como é a estrutura interna do canopy, para isso eu usei um strip de estireno, mas pode ser feito de sprue ou metal. Fiz também com sprue as alças no pára-brisas, lugar onde o piloto se segura para adentrar ou sair do cockpit e as luzes internas do cockpit, que estão localizadas na lateral interna da armação da parte anterior do pára-brisas. Essas peças foram feitas com uns pedacinhos de tubos de latão e um fio de cobre. O que nos leva à fazer um kit na escala 1/32? Lembrando que para mim, o ponto alto de um kit, é o que se pode ver além dele mesmo. Ou seja, se tem um motor à mostra, tem que voltar as atenções para ele, neste caso é o cockpit.





Importante dizer que para colar essa armação por dentro do canopy, é recomendável que se faça isso com a proteção das fitas adesivas, pois elas protegem o plástico da peça evitando aquele efeito de congelamento que dá aquela esbranquiçada e arruína todo o trabalho. Aqui é preciso ter nervos de aço e uma agulha para aplicar a cola. 






Agora passando para as asas, eu abri espaço na parte superior, local onde se acomoda o trem de pouso, como vou utilizar os grandes, na aeronave real esse espaço é maior. Outra modificação foi nos slats das asas, neste local é formado um degrau para que se acomode o slat no modelo, mas na realidade, esse espaço não possui degrau e sim uma superfície inclinada. Então eu usei tiras de plasticard na espessura do degrau para cobrir o gap; nesta etapa é bom ressaltar que a espessura interna dos slats devem ser afinadas com uma lâmina fina para que estes se pareçam mais com o que é na realidade.









Abaixo se pode notar na asa de uma aeronave real que a superfície não possui tal degrau.





As MG 17 de 13mm são na verdade o único aftermarket que comprei para o kit, são da Master Model. Comparada com a peça original, ela é nitidamente superior, mas não que não se possa usar a peça original, desde que se perca um tempinho melhorando aqui e ali. A questão é que eu vi que estava à venda na Loja online specialforces.com.br e resolvi investir no kit, já que não havia comprado nada para ele, apesar deste ter vindo com o bônus de PE; mas oportunidade é para aproveitar!





Foram instalados também as grades dos radiadores que também vieram no bônus; sendo que a peça original do kit é boa. Também coloquei aquela haste que fica no meio da entrada de ar do radiador utilizando sprue.





Bom, acho que por último deixei para fazer a mira Revi 16B. A peça do kit é muito boa para se trabalhar nela, então umas pesquisas na internet me mostraram que era possível trabalhar na peça do kit, eu nada mais usei do que pedaços de PE de um velho set já utilizado (nem me lembro do que era, talvez um Panzer IV), mas serviu para fazer os braços de apoio, o resto foi pedacinho de metal pra lá, pedacinho pra cá e um tubinho de latão para formar a base do equipamento que é instalada no painel. Na realidade, esse equipamento podia ser girado para a esquerda, afim de melhorar a visão do piloto quando não em combate.


                                Foto: ww2aircraft.net




Acho que ficou bem legal e convincente, agora eu acho que tudo está pronto para a  etapa de pintura. 

CONTINUA!